Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre

Como o sangue que corre neste exato instante em nossas veias de um bisavô distante na história e na geografia. Como a música que nossos pais nos cantavam na primeira infância. Casa-grande & senzala (Global Editora) é assim: algo que simplesmente está em nós, um conhecimento, uma interpretação das raízes do povo brasileiro que está de alguma forma em todos os outros livros – ficção ou não – e está no pensamento até de quem ainda não o percorreu. Tanto melhor para quem o conhece e já leu. Conheça essa edição do clássico fundamental:

Casa-grande & senzala foi, é e será referência para a compreensão do Brasil.” na apresentação do livro escrita pelo professor de sociologia e ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso.

Formou-se na América tropical uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica, híbrida de índio – e mais tarde de negro – na composição. Sociedade que se desenvolveria defendida menos pela consciência de raça, quase nenhuma no português cosmopolita e plástico, do que pelo exclusivismo religioso desdobrado em sistema de profilaxia social e política. Menos pela ação oficial do que pelo braço e pela espada do particular. — do capítulo I – “Características da colonização portuguesa no Brasil: formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida”

O europeu saltava em terra escorregando em índia nua; os próprios padres da Companhia precisavam descer com cuidado, senão atolavam o pé em carne. Muitos clérigos, dos outros, deixaram-se contaminar pela devassidão. As mulheres eram as primeiras a se entregarem aos brancos, as mais ardentes indo esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses. Davam-se ao europeu por um pente ou um caco de espelho. — do capítulo II – “O indígena na formação da família brasileira”

 

O escravocrata terrível que só faltou transportar da África para a América, em navios imundos, que de longe se adivinhavam pela inhaca, a população inteira de negros, foi por outro lado o colonizador europeu que melhor confraternizou com as raças chamadas inferiores. O menos cruel nas relações com os escravos. É verdade que, em grande parte, pela impossibilidade de constituir-se em aristocracia europeia nos trópicos: escasseava-lhe para tanto o capital, senão em homens, em mulheres brancas. — do capítulo III – “O colonizador português: antecedentes e predisposições”

O intercurso sexual de brancos dos melhores estoques – inclusive eclesiásticos, sem dúvida nenhuma, dos elementos mais seletos e eugênicos na formação brasileira – com escravas negras e mulatas foi formidável. Resultou daí grossa multidão de filhos ilegítimos – mulatinhos criados muitas vezes com a prole legítima, dentro do liberal patriarcalismo das casas-grandes; outros à sombra dos engenhos de frades; ou então nas “rodas” e orfanatos. — do capítulo V – “O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro (continuação)”

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