Poeta Sergio Vaz coordena leituras no Sesc

A leitura de Literatura, que tem um quê de solitária, pode não ser. É o que acontece nos clubes de leitura, cada vez mais numerosos no Brasil. Já funciona muito bem quando um grupo decide ler uma mesma obra e se encontrar depois para trocar impressões, mas quando há um mediador com conhecimento e experiência para lançar luz sobre aspectos fundamentais dos livros e autores a experiência é ainda mais bem aproveitada. E quando o mediador é também autor, melhor ainda, que os participantes ganham o olhar de quem escreve literatura, sempre um olhar muito aguçado.

Sergio Vaz, com três livros publicados pela Global Editora, está no comando do Clube do Livro, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, que terá quatro encontros sobre livros escritos a partir da periferia das grandes cidades brasileiras. O primeiro encontro é neste próximo dia 29 de março, sobre o livro Quarto de Despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus (1960). O segundo, em 26 de abril, será sobre Flores de Alvenaria (Global Editora), do próprio Sérgio Vaz, sua obra mais recente. E o terceiro, em 31 de maio, será Muzimba – Na Humildade Sem Maldade, de Akins Kintê. Ainda há um quarto encontro, com livro que será definido ainda, em conjunto com o grupo de participantes.

A participação é gratuita, sempre às 19h30, na Sala de Atividades 2, 5º Andar – Torre A do Sesc Vila Mariana. O interessado encontra mais informações no site da unidade. Confira!

 

Flores de alvenaria

Lançado em 2016 pela Global Editora e com apresentação escrita pelo cantor e compositor Chico César, esse livro traz uma mescla de gêneros – além da poesia, crônicas, pensamentos e aforismos afiados. Poeta maduro, culturalmente engajado, semeando em escolas e bairros periféricos não só em São Paulo, a importância da escrita e da leitura de Literatura, para encurtar as diferenças sociais, anular a exclusão das vozes historicamente caladas. Voz e necessidade de expressão que Vaz constrói no poema Somos nós, de Flores de alvenaria:

Vocês dizem que não entendem
que barulho é esse que vem das ruas
que não sabem que voz é essa
que caminha com pedras nas mãos
em busca de justiça, e por que não dizer, vingança.
Dentro do castelo às custas da miséria humana
alega não entender a fúria que nasce dos sem causas,
dos sem comidas e dos sem casas.
O capitão do mato dispara com seu chicote
a pólvora indigna dos tiranos
que se escondem por trás da cortina do lacrimogênio,
O CHICOTE ESTRALA, MAS ESSE POVO NÃO SE CALA.
Quem grita somos nós,
os sem educação, os sem hospitais e sem segurança
Somos nós, órfãos de pátria,
os filhos bastardos da nação.
Somos nós, os pretos, os pobres,
os brancos indignados e os índios
cansados do cachimbo da paz.
Essa voz que brada, que atordoa teu sono
vem dos calos das mãos, que vão cerrando os punhos
até que a noite venha
e as canções de ninar vão se tornando hinos
na boca suja dos revoltados.
Tenham medo sim,
somos nós, os famintos,
os que dormem nas calçadas frias,
os escravos dos ônibus negreiros,
os assalariados esmagados no trem,
os que na tua opinião
não deviam ter nascido.
Teu medo faz sentido,
em tua direção
vão as mães dos filhos mortos
o pai dos filhos tortos
te devolvem todos os crimes
causados pelo descaso da tua consciência.
Quem marcha em tua direção?
Somos nós,
os brasileiros
que nunca dormiram
e os que estão acordando agora.
Antes tarde do que nunca.
E para aqueles que acharam que era nunca, agora é tarde.

 

Assista também à entrevista que Sergio Vaz concedeu no aniversário de 12 anos da Cooperifa, que agora já é um adolescente de 16 anos.