Gentidades, de Darcy Ribeiro

Darcy Ribeiro sempre buscou falar de ciências sociais, educação e política de uma maneira complexa e ao mesmo tempo acessível. Sua vasta obra denuncia que conseguiu o que desejava. A complexidade está na inter-relação dos assuntos, no pensamento aprofundado de causas e consequências dos fatos, das escolhas, e também no aspecto individual por trás de todos os grandes eventos da humanidade. O lado acessível é pela linguagem, pelos exemplos que dá em seus textos, realmente criando laços com os leitores, aproximando e convidando a pensar.

Gentidades (Global Editora) traz três ensaios que intensificam essa aproximação entre pessoas e pensamentos. Começa por Gilberto Freyre, autor de Casa-grande & senzala (Global Editora) e outros livros importantes para o entendimento da sociedade brasileira. Do grande sociólogo, Darcy passa para o indígena Uirá, que acabou matando-se na sua jornada em busca de Deus. E então o terceiro personagem é um presidente chileno Salvador Allende, que foi morto no golpe de Estado comandado por militares em 1973 no Chile. Na variedade que o livro apresenta está a força dele, essa característica marcante de Darcy Ribeiro de não perder de vista o aspecto humano, muito individual, que habita as grandes histórias.

Trechos:

“Gilberto Freyre não fica aí em suas liberdades. Vai adiante, rindo, zombando, com uma galhofa de moleque, que desacorçoa o leitor brasileiro acostumado à pobre escrita retórica e tola que se lia então como literária. Alguns perfis traçados por ele são primorosas caricaturas de figuras vetustas. Do filósofo Farias Brito, tão cultuado pela direita católica, Gilberto escreve que fracassando na política republicana, refugiou-se com seu fraque preto e seus bigodes tristes nas indagações da filosofia. Jamais uma biografia dirá tanto e retratará tão bem ao pobre filosofante.”

“Percorrendo as aldeias Urubu em 1951, registramos o caso de um índio que se matou vazando o pescoço com uma flecha, em virtude do pavor a que fora levado por um pajé Tembé que o convencera de que o avião comercial que sobrevoa semanalmente o território tribal iria despejar do céu uma chuva de fogo. Toda a gente de outro grupo local destruiu as casas e os bens mais preciosos – as coleções de adornos plumários – para seguir o mesmo pajé que profetizava o fim do mundo pelo estouro do Sol.”

“Escrevo sobre um estadista. O mais lúcido com quem convivi e o mais combativo. Um estadista que deixa como legado para nossa reflexão a experiência revolucionária mais generosa e avançada do nosso tempo, edificar o socialismo em democracia, pluralismo e liberdade.”

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