Aniversário de Cora Coralina

“Este nome não inventei, existe mesmo, é de uma mulher que vive em Goiás: Cora Coralina”, escreveu Carlos Drummond de Andrade, cheio de elogios à poeta que havia descoberto, em texto publicado no Jornal do Brasil, em dezembro de 1980.

Cora Coralina não foi Drummond que inventou, foi mesmo Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, que nasceu na cidade de Goiás, em 20 de agosto de 1889. Aniversário de poeta comemora-se com sua poesia, pescamos um dos poemas do livro Vintém de cobre (Global Editora).

Voltei

Voltei. Ninguém me conhecia. Nem eu reconhecia alguém.
Quarenta e cinco anos decorridos.
Procurava o passado no presente e lentamente fui identificando a minha gente.
Minha escola primária. A sombra da velha Mestra.
A casa, tal como antes. Sua pedra escorando a pesada porta.
Quanto daria por um daqueles duros bancos onde me sentava,
nas mãos a carta de “ABC”, a cartilha de soletrar,
separar vogais e consoantes. Repassar folha por folha,
gaguejando lições num aprendizado demorado e tardo.
Afinal, vencer e mudar de livro.
Reconheço a paciência infinita da mestra Silvina,
sua memória sagrada e venerada, para ela a oferta deste livro,
todas as páginas, todas as ofertas e referências
Tão pouco para aquela que me esclareceu a luz da inteligência.
A vida foi passando e o melhor livro que me foi dado
foi Estórias da Carochinha, edição antiga, capa cinzenta,
papel amarelado, barato, desenho pobre, preto e branco, miúdo.

O grande livro que sempre me valeu e que aconselho aos jovens,
um dicionário. Ele é pai, é tio, é avô, é amigo e é um mestre.
Ensina, ajuda, corrige, melhora, protege.
Dá origem da gramática e o antigo das palavras.
A pronúncia correta, a vulgar e a gíria.
Incorporou ao vocabulário todos os galicismos, antes condenados.
Absolveu o erro e ressalvou o uso.
Assimilou a afirmação de um grande escritor: é o povo que faz a língua.
Outro escritor: a língua é viva e móvel. Os gramáticos a querem estática,
solene, rígida. Só o povo a faz renovada e corrente
sem por isso escrever mal.


Saiba mais sobre a vida da autora

Na cidade histórica de Goiás, que antes de Goiânia foi a capital do Estado, está o museu Casa de Cora Coralina, onde nasceu e viveu a poeta. Conhecer o lugar é entender o ambiente a partir do qual Cora Coralina produziu a maior parte de sua vasta obra, hoje publicada pela Global Editora. Confira o vídeo:


Nesse outro vídeo, sua filha Vicência Bretas Tahan, conta detalhes de sua vida:

Nessa entrevista, o escritor André de Leones, goiano como Cora, analisa a força da obra dela, rejeitando uma certa visão simplista sobre a poeta, de uma velhinha que fazia doces e “uns poemas”.

 
 


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