Quando Florestan mostrou que não estava tudo bem no Brasil

Brancos e negros em São Paulo, escrito com Roger Bastide e O negro no mundo dos brancos são duas das obras de Florestan Fernandes publicadas pela Global Editora que tratam da grande pesquisa feita pelo sociólogo na USP sobre as relações raciais no Brasil, a partir da maior cidade do país.

Neste vídeo, a professora doutora Lidiane Rodrigues, da Universidade Federal de São Carlos, ilumina as condições da pesquisa, sua importância também pelos métodos científicos e sensibilidade no trato dos entrevistados e do que revelaram aos pesquisadores (entre eles, um que viria a ser presidente da república, Fernando Henrique Cardoso).

 

No livro Leituras&Legados (Global Editora), há a transcrição de um seminário apresentado por Florestan em 1984, que atualiza suas conclusões a partir da pesquisa que realizou entre os anos 50 e 60. A seguir, trechos do ensaio As relações raciais em São Paulo reexaminadas:

Não podemos apanhar a nossa investigação como um projeto típico de “pesquisa de relações raciais” a la norte-americana. A nossa tentativa buscava render conta de uma realidade histórica.

De imediato, fomos considerados “tendenciosos” e responsáveis pela “deformação da verdade” em vários níveis da sociedade circundante. Houve, mesmo, uma ocorrência típica. O diretor de uma escola de sociologia que afirmou publicamente que Bastide e eu estávamos introduzindo “o problema” na Brasi! A comunidade negra, por sua vez, exagerou a importância de nossa contribuição. Estava maravilhada com o fato de termos rompido aquele isolamento psicossocial e histórico, feito dele uma arma da razão e da crítica. Principalmente, ficaram encantados com o fato de suas “lutas” terem encontrado resposta e confirmação.

As transformações da sociedade logo viriam demonstrar o acerto de nossos procedimentos e dos prognósticos implícitos ou explícitos (como no último ensaio do livro O negro no mundo dos brancos – Global Editora). O problema negro se tornou, ao mesmo tempo, mais claro, mais grave e mais carregado de tensões emancipadoras.


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