Livros de Cecília Meireles são lançados durante a Bienal

por Fernanda Faustino

Reconhecida internacionalmente por sua poesia, Cecília Meireles começa a ser publicada pela Global Editora, casa que possui vasta experiência na publicação de renomados autores brasileiros.

Os primeiros títulos da autora pela editora serão lançados durante a 22a edição da Bienal do Livro de São Paulo. Entre eles, estão: Viagem, Romanceiro da Inconfidência, Os pescadores e as suas filhas e Cecília Meireles – Crônicas para Jovens.

 André Seffrin, coordenador da produção editorial das obras de Cecília para a Global, crítico literário e ensaísta brasileiro, relata que foi um grande desafio organizar a produção editorial da autora. “Contamos, é claro, com uma equipe grande empenhada no trabalho. E esse trabalho começa pela editora, pelo núcleo editorial, e por Alexandre Teixeira e Vânia Barra, da Solombra, pelos prefaciadores, ilustradores e selecionadores, um grupo unido que procura fazer o melhor em termos de qualidade textual e gráfica”, explica. Além disso, Seffrin afirma que é preciso sempre respeitar as prerrogativas do autor, isto é, publicar Cecília Meireles dentro das coordenadas que ela própria determinou. “Essa tarefa exige muito cuidado, esforço, humildade e uma vigilância sem fim.”

Ele observa que, entre as características da autora nos gêneros de poesia, crônica, ensaio, cartas e em tudo mais que Cecília Meireles deixou registrado, existe a marca de uma alta exigência formal, o que, segundo o coordenador, não pode ser confundida com o culto gratuito da forma pela forma. “A autora sempre conquistou legiões de leitores, um público fiel e crescente, ao ponto de sua obra se ter instituído como uma das mais belas lições de vida e arte na literatura brasileira, por dizer com fervor o essencial”, comenta. Ele destaca, também, o fato de a autora tratar dos temas mais cotidianos sempre modulados por paisagens metafísicas, por sua proximidade com a natureza. “Além de seu amplo espectro temático, pela maneira como o aborda, é seguramente um dos nossos maiores monumentos literários.”

Seffrin ressalta que quem se aventurar pelas páginas das obras da poetisa terá tudo o que só é possível encontrar nos autores clássicos. “O contato com as obras de Cecília traz revelações que nos transformam, que nos tornam melhores diante da vida e de suas surpresas, sejam elas alegres ou tristes”, analisa. E complementa: “são de fato poucos os autores que se fixaram no essencial e com tanta intensidade, e disseram com tanta propriedade o que existe de certo e incerto na buliçosa paisagem humana”.

Já Alberto da Costa e Silva, historiador, diplomata e poeta, define a poesia de Cecília como sendo uma fidelidade à melhor tradição da poesia ocidental e da poesia em língua portuguesa em particular. “Ela continua as lições do simbolismo e é de uma contemporaneidade que tem muito a ver com Paul Valéry, grande poeta francês, e Rainer Maria Rilke, um dos mais importantes poetas da língua alemã”, analisa.

Especificamente sobre a obra Romanceiro da Inconfidência, da qual foi prefaciador, Silva aponta que Cecília se utilizou de elementos fatídicos para recriar emocionalmente o período da Inconfidência mineira. “No Romanceiro, a relação proposta por Cecília é entre poesia e história”, comenta. “A autora consegue remeter a fatos históricos e à atmosfera do mito, e nisso ela compõe uma maneira de escrever popular.”

Nesta obra, de acordo com Costa e Silva, a escritora vê um edifício não apenas como um documento histórico, mas também como parte de um cenário em que se passa um drama. “Quando os poetas escrevem sobre história, como fez Cecília, eles trazem o que consta dos documentos e enriquecem esses documentos com a imaginação”, aponta.

A obra também se faz importante para quem quer conhecer os elementos que marcaram o período da Inconfidência. “Considero importante para entender a humanidade do período da Inconfidência: como eram as pessoas de carne, osso e espírito que viveram aqueles momentos e que continuam em ultima análise a vivê-los em forma de poema”, salienta. “Traz um passado emocionalmente reconstituído para a leitura do presente.”Ainda segundo o historiador, o que o leitor pode esperar do Romanceiro da Inconfidência é encantamento, característica que todo leitor procura nas obras de poesia.