Literatura Periférica foi tema de mesa na Bienal do Livro
Com uma programação que contemplou jovens, crianças e adultos, a edição 2012 da Bienal de São Paulo promoveu no dia 16 de agosto uma mesa com a temática “Escritores de Periferia”, da qual participaram os autores Sérgio Vaz, Ferréz e Paulo Lins, com mediação do jornalista Lázaro de Oliveira.
Em menção à literatura de periferia, o jornalista a considera instigante, pois retrata o que os próprios personagens vivem na pele. “Eles são personagens deles mesmos por denunciar as injustiças e desigualdades sociais que eles mesmos sofrem.”Os três grandes autores relatam que o ato de escrever para eles é uma experiência única, pois a narrativa que eles mesmos criam toca na alma. Sérgio Vaz define o processo de escrita como doloroso, que arranca pedaços e sangra. “Escrevo para não enlouquecer e para que eu não me sinta tão pequeno no mundo”, conta. Segundo ele, o fato de ter escolhido a carreira de escritor foi motivo de preconceito na própria periferia.
De acordo com Ferréz, a intensidade ao escrever ocorre porque o texto não é feito apenas de meras palavras, elas vêm carregadas de sentimentos. “Eu tenho a necessidade de colocar as histórias no papel. Esta não foi uma opção fácil no meio onde nasci.”
Quando questionados sobre as influências que tiveram para se tornarem escritores, Vaz relatou que seu pai sempre leu muito e isso sempre o incentivou. “Tínhamos uma pequena biblioteca em casa, então tomei gosto pela leitura”, conta. “Entre os autores que me influenciaram estão Pablo Neruda, Mia Couto, Ferreira Gullar, Jorge Amado, entre outros. A poesia é o que eu procuro em todo o texto que leio.”
Lins resumiu: “Na verdade o que todo mundo procura é a arte propriamente dita. A poesia é a verdade humana. A arte é a melhor coisa na vida do ser humano”, relata. Para ele, a principal característica da arte literária é que existe espaço para todo mundo. “Na literatura existe espaço para mim, para o Ferréz e para o Vaz, é um campo onde tudo se complementa.”Ferréz explica que o tema abordado nos livros dele é a própria realidade repleta de injustiças e desigualdades sociais. “Enquanto o tema existir, temos a obrigação de falar dele, pois somos interlocutores desta realidade injusta que vivemos”, observa. A literatura, para ele, precisa tocar o coração, fato que, se não acontecer, revela a incapacidade do autor. “Isso é tocar as pessoas, e saber expor essa realidade é o que define se o autor é bom ou não. Para mim, o sofrimento é a melhor escola.”
Sérgio Vaz, que também é fundador da Cooperativa Cultural da Periferia (Cooperifa), relatou que hoje estamos vivendo uma efervescência cultural. A periferia está formando público e somos um dos agentes que motivaram isso. “A Cooperifa, por exemplo, tem o propósito de formar um público leitor e o Brasil carece disso.” Após o bate-papo, Vaz promoveu uma sessão de autógrafos no estande da Global Editora.