Sobre Edla Van Steen

Em 1965, três jovens autores lançaram juntos seus primeiros livros. Edla Van Steen com Cio, Thomaz Souto Correa com Morte Semi virgem e eu com Depois do Sol. Fomos dos primeiros a enfrentar uma novidade, as tardes e noites de autógrafos coletivas e principalmente as viagens pelo interior para lançar livros.

Lembro-me que em Marília, durante um festival de cinema (o daquela cidade era agitado e levava um mundo de astros e estrelas) ninguém sabia ainda o que era manhã de autógrafos. Os cinéfilos da época conheciam Edla como atriz do filme Na Garganta do Diabo, de Walter Hugo Khoury. Estávamos os três sentados em nossas mesas, no Cinebar lotado. Todos nos olhavam sem saber o que fazer.

Anselmo Duarte, que tinha ido para a estreia de seu filme Vereda da Salvação, entendeu, foi lá apanhou três livros e avisou: comprem os livros que os autores vão autografar para vocês, uma bela chance! Vendemos um monte.

Aquela época marcou o início de uma amizade que continuou forte até esta madrugada, quando Edla partiu. Por mais de 50 anos lançamos livros, fizemos palestras juntos, participamos de feiras literárias e concursos. Ela organizou dezenas de antologias de contos (inclusive a minha), crônicas, publicou mais de vinte livros.

Sempre divertida, companheira, defensora do profissionalismo em nossos ofício. Gostava de descobrir e lançar novos autores ou mesmo os que estavam perdidos no tempo e eram bons. Casada com Sábato Magaldi, organizou um livro que considero seminal, o das críticas de teatro que o marido escreveu para o jornal O Estado de S. Paulo.

Viver é, a partir de um tempo, retirar figurinhas queridas do nosso álbum.

Ignácio de Loyola Brandão