Vida e obra de Ricardo Reis – nossos Fernandos Pessoas

Fernando Pessoa é único, por ter sido tantos. A Global Editora acaba de lançar mais um livro da série com edição de uma das mais importantes especialistas na obra de Pessoa em todo o mundo, a portuguesa Teresa Rita Lopes. Depois de Livro(s) do Desassossego, Vida e obras de Alberto Caeiro, chega Vida e obras de Ricardo Reis.

Assim como os demais, é uma edição muito caprichada, com documentos originais permeando os poemas e textos de apresentação e contexto. O cuidado acadêmico é tremendo, com muita informação relevante para pesquisadores e que só aumentam o prazer de quem busca esses textos por deleite apenas. A edição recebeu o apoio da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas de Portugal.

“Poderíamos evocar o que Pessoa escreveu numa carta (de 10-01-1930) a João Gaspar Simões sobre Sá-Carneiro: ‘não teve biografia: teve só gênio. O que disse foi o que viveu’. Reis da mesma forma se manifestou sobre Cairo: ‘na vida de Caeiro nada se passou, a não ser os versos que escreveu’. Mas a verdade verdadinha é que Pessoa sentiu necessidade de biografar os seus heterônimos – o que fez, dispersamente, em vários textos, e deles traçando mesmo o retrato físico e moral numa célebre carta a Adolfo Casais Monteiro, de 13 de janeiro de 1935, o ano em que morreu.”

Teresa Rita Lopes

“O que sentimos, não o que é sentido,
É o que temos. Claro, o inverno estreita.
*******Como à sorte o acolhamos.

Haja inverno na terra, não na mente,
E, amor a amor, ou livro a livro, amemos
*******Nossa lareira breve.”

Pág.167

“Nada fica de nada. Nada somos
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
*******Da húmida terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam,

Leis feitas, statuas altas, odes findas –
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
*******Poente, porque não elas?
Somos contos contando contos, nada.”

Pág. 180

“Não mais pensada que a dos mudos brutos
Se fada a humana vida. Quem destina
*******Mais que os gados nos campos
*******O fim do seu destino?”

Pág. 196

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