Darcy Ribeiro ganha homenagem na USP

São muito poucos – geralmente os que não o conheceram pessoalmente – que, ao falar de Darcy Ribeiro, não emitem uma risadinha logo em seguida. O riso vem com a lembrança, inevitável. Haveria tanto o que chorar, os sofrimentos que passou combatendo um câncer, o exílio com o golpe militar de 1964, projetos maravilhosos que criou e por questões múltiplas não seguiram adiante, como as escolas de tempo integral no Rio de Janeiro da década de 1980 – os Cieps – ou a Universidade de Brasília como ele a concebeu nos anos 1960. Mas o que vem é o riso.

A cineasta Isa Grinspum Ferraz sorri ao lembrar-se de quando propôs a ele as gravações para o documentário O povo brasileiro: primeiro Darcy não queria, andava cansado, doente. Mas, quando Isa disse que era para as escolas do Brasil todo, aí mudou de humor, topou na hora.

O ex-senador Almino Affonso também sorri quando lembra como Darcy invadiu a Câmara dos Deputados, em 1961, para pedir o apressamento da votação da lei que criava a Universidade de Brasília, atropelando o regimento interno, numa ação que o tempo revelou ter sido acertadíssima.

Mesmo o professor Alessandro Octaviani, idealizador do evento que prestou homenagem a Darcy Ribeiro, nessa terça-feira, 12 de setembro, na Faculdade de Direito da USP, no belíssimo e histórico prédio do Largo São Francisco, Centro de São Paulo, até ele ri quando evoca o nome do pensador brasileiro, ao pegar emprestado dele um termo que ficou famoso em sua fala: os “fazimentos”.

“Fazimento” era um neologismo que significava algo como pôr a teoria em prática, meter a mão na massa para construir o que em pensamento criava. Foram muitos os fazimentos de Darcy Ribeiro como etnólogo, educador, ministro, vice-governador, senador, ensaísta e romancista.

O evento Darcy Ribeiro – O Brasil como amor durou um dia inteiro, com mesas que foram demonstrando a um público que em grande parte não era adulto quando Darcy morreu, em 1997, o tanto que ele foi. Participaram políticos como Eduardo Suplicy, Cristovam Buarque, Almino Affonso, a cineasta Isa Ferraz, o antropólogo Mércio Gomes, a educadora Lúcia Velloso (Fundação Darcy Ribeiro), o escritor Marcelo Rubens Paiva, entre outros grandes nomes de diversas áreas do conhecimento e atuação. No vídeo, um pouco do que foi esse encontro, de uma saudade mais alegre que doída.