Um livro que é uma flor, uma flor que é poesia

Girassóis, de Caio Fernando Abreu, é uma joia que brilha no catálogo da Global Editora. Pequeno, é do tipo de se reler muitas, muitas vezes. Ilustrado por Paulo Portella Filho, é destinado a jovens e crianças, mas também a adultos. O texto é o trecho de uma crônica publicada em 7 de fevereiro de 1996 no jornal O Estado de S. Paulo, no mesmo mês em que ele veio a morrer, dia 25.

A crônica chama-se “A morte dos girassóis”. Na última página do livro, a escritora Cláudia Pacce lembra: “Nesta crônica ele contava sua experiência com a vida curta, porém plena, dos girassóis. Saboreando entrelinhas, fui tocada ao sentir que bem ali, na corola da crônica do Caio, havia uma história pronta para acariciar a alma das crianças e de todos nós.” É uma das evidências de que a poesia não se revela apenas em poemas, mas num conto, em trechos de romances, numa crônica publicada no jornal.

Girassol leva tempo se preparando, cresce devagar, enfrentando mil inimigos, formigas vorazes, caracóis do mal, ventos destruidores. Depois de meses, um dia, pá! Lá está o botãozinho todo catita, parece que já vai abrir.

Estava tão mal que o talo pendia cheio de ângulos das fraturas, a flor ficava assim meio de cabeça baixa e de costas para o Buda. Não havia como endireitá-lo.

Na manhã seguinte, juro, ele havia feito um giro completo sobre o próprio eixo e estava com a corola toda aberta, iluminada, voltada exatamente para o sorriso do Buda. Os dois pareciam sorrir um para o outro. Um com o talo torto, outro com as mãos quebradas.

Caio Fernando Abreu portava o vírus da aids e tinha noção de que seu tempo de vida estava por terminar. Em menos de cinquenta anos de vida deixou uma importante obra literária. A Global Editora também publica o volume Melhores Contos Caio Fernando Abreu, com alguns de seus textos mais celebrados. Sobre ele, a consagrada escritora Lygia Fagundes Telles diz: “Numa linguagem contida e densa ele vai transmitindo o seu mundo aparentemente simples mas profundo, que revela o sofrimento sem escândalo, sem estardalhaço, num clima quase poético, impregnado de piedade que é também amor. Um apaixonado da palavra, sua linguagem é a paixão.”

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