Poetas de outubro – Série Melhores Poemas

Outubro é mês de aniversário de apenas três poetas da série Melhores Poemas da Global Editora. Mas, entre eles, está Mário de Andrade, uma das figuras mais influentes na literatura brasileira em todos os tempos – locomotiva do Modernismo e da Semana de 1922. Ele, Mário Faustino, que além de poeta foi crítico literário de escrita feroz, e Raul de Leoni. Porém, não ser a editora que publica a obra de Carlos Drummond de Andrade não impede que a Global também celebre o aniversário do grande poeta, em 31 de outubro. Parabéns eternos aos poetas brasileiros!

QUARENTA ANOS
(27 de dezembro de 1933)

 A vida é para mim, está se vendo,
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais se gozo, pois o que gozo
Só pode ser medido em se sofrendo.

Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
Disso, persisto em me enganar… Eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
Que eu adorei. Foi meu pecado… Horrendo

Seria, agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte,
Me agarrar a esta vida fementida.

Vou fazer do meu fim minha esperança,
Oh sono, vem!… Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.

Mário de Andrade nasceu em São Paulo, Capital, em 9 de outubro de 1893.

“A trajetória poética de Mário de Andrade é dinâmica, e em etapas seguintes, ou mesmo simultaneamente, podemos encontrar outros modos de relacionamento com os seres, o mundo, a própria personalidade. Assim, o monólogo interior, que na fase inicial acompanhava o ritmo das caminhadas, no campo ou na cidade, se transforma em diálogo com o irmão longínquo do Norte ou do Sul.” – da apresentação de Gilda de Mello e Souza.


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VIDA TODA LINGUAGEM

Vida toda linguagem,
frase perfeita sempre, talvez verso,
geralmente sem qualquer adjetivo,
coluna sem ornamento, geralmente partida.
Vida toda linguagem,
há entretanto um verbo, um verbo sempre, e um nome
aqui, ali, assegurando a perfeição
eterna do período, talvez verso,
talvez interjetivo, verso, verso.
Vida toda linguagem,
feto sugando em língua compassiva
o sangue que criança espalhará – oh metáfora ativa!
leite jorrado em fonte adolescente
sêmen de homens maduros, verbo, verbo.
Vida toda linguagem,
bem o conhecem velhos que repetem,
contra negras janelas, cintilantes imagens
que lhes estrelam turvas trajetórias.
Vida toda linguagem –
como todos sabemos
conjugar esses verbos, nomear
esses nomes:
amar, fazer, destruir,
homem, mulher e besta, diabo e anjo
e deus talvez, e nada.
Vida toda linguagem,
vida sempre perfeita,
imperfeitos somente os vocábulos mortos
com que um homem jovem, nos terraços do inverno, contra a chuva,
tenta fazê-la eterna – como se lhe faltasse
outra, imortal sintaxe
à vida que é perfeita
língua
eterna.

Mário Faustino nasceu em Teresina, PI, em 22 de outubro de 1930.

“Tão pouco extensa quanto foi a vida de seu autor, a poesia de Mário Faustino está marcada por uma profunda unidade, em contraste com o seu perfil inquieto e mutável, aparentemente dispersivo e inacabado” – da apresentação de Benedito Nunes.


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E O POETA FALOU

Afinal, tudo que há de mais nobre e mais puro
Neste mundo de sombras e aparências
Fui eu quem revelou ou concebeu…

Fui a primeira luz neste planeta obscuro!
Fui a suprema voz de todas as consciências!
Fui o mais alto intérprete de Deus!

Dei alma à Natureza indiferente,
Inteligência às cousas, sentimentos
As forças cegas e automáticas do Cosmos!…

Acompanhei e dirigi os povos
Na sua eterna migração para o Poente;
Levantei os primeiros monumentos
E os primeiros impérios milenários;
Teci as grandes lendas tutelares,
Despertei na memória das criaturas
A sua antiga tradição divina,
Criando as religiões, as fábulas, os mitos
Para iludir a dor universal:

Abri os horizontes infinitos;
Bebi o néctar das primeiras taças;
Plasmei os altos símbolos humanos.
Sutilizei o instinto e imaginei o amor;
Fui a força ideal das civilizações!
O gênio transfigurador da História!
O espírito anônimo dos séculos!
E, harmonioso, profético, profundo,
Passei humanizando as cousas pelo mundo,
Para divinizar os homens sobre a Terra!

Raul de Leoni nasceu em Petrópolis, RJ, em 30 de outubro de 1895.

“Para Raul a emoção residia nas ideias em si mesmas. Elas eram para ele uma inesgotável nascente de lirismo. E esse lirismo ele soube transmitir-nos em imagens e conceitos de singular limpidez e perfeição” – texto de orelha, Manuel Bandeira.


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