Homenagens a Edla Van Steen

Se fosse uma jogadora de futebol, Edla Van Steen seria uma camisa 10 com tarja de capitã, das que podem fazer gols, no entanto, ainda mais, sabem distribuir o jogo e fazer dos demais jogadores do time também goleadores. Lemos o tanto de nomes de autores vivos ou do passado, e o tanto de nomes que assinam as seleções e apresentações das coleções Melhores Contos, Crônicas e Poemas da Global Editora (contando ainda com a fabulosa e fundamental série Roteiro da Poesia brasileira em 15 volumes) e essa metáfora então fica completamente explicada.

Parcerias e conversas que resultaram em avanços para a valorização e preservação da literatura do país. Ignácio de Loyola Brandão, José Castello e Antonio Carlos Secchin, também importantes defensores da literatura brasileira, prestam aqui homenagens a Edla Van Steen a partir de diferentes pontos de vista e relação pessoal com a escritora, que morreu aos 81 anos, nesse abril de 2018.

Com a morte de Edla van Steen perdi uma grande amiga, e perde a literatura brasileira um grande nome. Conforme escrevi, quando honrosamente convidado por ela para apresentar a antologia de seus Melhores Contos, “Há muitas Edlas em Edla. A especialista em arte e diretora de importantes coleções literárias. A tradutora, roteirista e dramaturga. Mas, acima de tudo, a ficcionista, que há anos vem construindo, com estilo e relevo, uma obra ímpar em nossas letras”.

Publicou três dezenas de livros, fez publicar quase três centenas em suas prestigiosas coleções Melhores – contos, crônicas, poemas. Tive a alegria de colaborar com ela, seja indicando vários nomes para organizar volumes das coleções, seja, efetivamente, organizando eu próprio as antologias de João Cabral de Melo Neto (meu primeiro trabalho publicado na Global, em 1985) e de  Fagundes Varela. Também desenvolvemos parceria no  monumental Roteiro da poesia brasileira, em 15 volumes, das origens ao século XXI. Discutimos detalhadamente o projeto, os nomes que dele participariam,  e me incumbi do volume consagrado ao Romantismo.

A dedicatória que me fez em seu derradeiro livro, Instantâneos, de 2013, condensa em seis palavras nosso afeto recíproco: “Secchin querido, meu irmão, meu amigo”.

A Edla, minha palavra de saudade e gratidão.

 

Antonio Carlos Secchin, poeta, ensaísta e crítico literário
Membro da Academia Brasileira de Letras


A escritora Edla Van Steen foi, antes de tudo, uma amiga incondicional da literatura. Não se dedicou apenas a seus próprios textos, sempre muito inspirados. Dirigiu muita energia, talvez a maior parte da que dispunha, para tratar, cuidar e editar textos alheios, e também para fazer entrevistas inesquecíveis com escritores. Guiou-se, sempre, pelas idéias de respeito e doação. Tive a honra de ser um dos autores publicados pela coleção “As melhores crônicas de”, que Edla editou, com muita competência, para a Global Editora.

Meu livro tem a seleção e o prefácio assinados por Leyla Perrone Moisés, outro grande presente, de muito luxo, que Edla me deu. Minha gratidão a ela não tem tamanho, nem cabe em palavras. Não fomos amigos íntimos, nos vimos e nos falamos poucas vezes – tudo o que ela me deu foi movido, unicamente, por seu amor à literatura e à palavra. Agora nos deixa um caminho aberto, pelo o qual temos a obrigação de seguir.

 

José Castello, escritor e crítico literário 


Em 1965, três jovens autores lançaram juntos seus primeiros livros. Edla Van Steen com Cio, Thomaz Souto Correa com Morte Semi virgem e eu com Depois do Sol. Fomos dos primeiros a enfrentar uma novidade, as tardes e noites de autógrafos coletivas e principalmente as viagens pelo interior para lançar livros.

Lembro-me que em Marília, durante um festival de cinema (o daquela cidade era agitado e levava um mundo de astros e estrelas) ninguém sabia ainda o que era manhã de autógrafos. Os cinéfilos da época conheciam Edla como atriz do filme Na Garganta do Diabo, de Walter Hugo Khoury. Estávamos os três sentados em nossas mesas, no Cinebar lotado. Todos nos olhavam sem saber o que fazer.

Anselmo Duarte, que tinha ido para a estreia de seu filme Vereda da Salvação, entendeu, foi lá apanhou três livros e avisou: comprem os livros que os autores vão autografar para vocês, uma bela chance! Vendemos um monte.

Aquela época marcou o início de uma amizade que continuou forte até esta madrugada, quando Edla partiu. Por mais de 50 anos lançamos livros, fizemos palestras juntos, participamos de feiras literárias e concursos. Ela organizou dezenas de antologias de contos (inclusive a minha), crônicas, publicou mais de vinte livros.

Sempre divertida, companheira, defensora do profissionalismo em nossos ofício. Gostava de descobrir e lançar novos autores ou mesmo os que estavam perdidos no tempo e eram bons. Casada com Sábato Magaldi, organizou um livro que considero seminal, o das críticas de teatro que o marido escreveu para o jornal O Estado de S. Paulo.

Viver é, a partir de um tempo, retirar figurinhas queridas do nosso álbum.

 

Ignácio de Loyola Brandão, escritor