Darcy Ribeiro, nosso ministro!

Quarta-feira, 16 de janeiro de 1963. No Brasil rufavam tambores militares como um fundo incômodo para o violão refinado de João Gilberto e o piano fluido de Tom Jobim. O país era bicampeão mundial de futebol e parava de respirar a cada Santos x Botafogo. Fazia 10 dias apenas que os brasileiros haviam decidido em plebiscito que desejavam o regime presidencialista no país. O parlamentarismo foi instituído às pressas, numa espécie de golpe de estado, depois da renúncia do presidente Jânio Quadros, para que o vice João Goulart não assumisse o cargo, como era seu direito constitucional.

Jango assumiu a presidência, mas dividiu o poder com primeiros-ministros – foram três até o plebiscito. O último deles, Hermes Lima, montou um ministério de craques,  com a presença de pensadores fundamentais, como uma linha de ataque com Garrincha e Pelé. No caso, o time tinha Darcy Ribeiro como ministro da Educação e Cultura, além de Celso Furtado ministro do Planejamento.

Nessa citada quarta-feira, 16 de janeiro de 1963, saía publicada no então muito importante jornal Última Hora a coluna do jornalista Paulo Francis, jovem ainda, mas já com muito prestígio, defendendo que no novo ministério de João Goulart Darcy pudesse continuar à frente do MEC – o Ministério da Educação e Cultura:

Enquanto os jornais publicam diariamente seus ministérios, mutáveis de acordo com os boatos do dia, proponho o meu Ministro: Darcy Ribeiro, à frente do MEC. (…)  Darcy Ribeiro é um intelectual de 40 anos, afinado com a realidade política e social do mundo e do Brasil de hoje. O Ministério de Educação, há muito tempo, está entregue a politiqueiros de vôo rasteiro, ocupados apenas em usá-lo para a dispensa de favores, para o tráfego de influência, para o empreguismo. (…) Com Darcy Ribeiro, essa imagem se diluiu. Sentiram todos os intelectuais uma possibilidade de galvanização do potencial do País num de seus setores mais desenvolvidos. Com a estabilidade política para o Governo de João Goulart, prenunciada nos resultados do plebiscito – sem dúvida, o maior crédito político já concedido a um governante no Brasil, em particular quando se considera o agravamento da crise financeira e o emperramento da máquina administrativa durante o parlamentarismo – Darcy Ribeiro, se confirmado no cargo, poderá estender, variar e aprofundar o arranco cultural cuja ignição foi o plano global de alfabetização.”

Não foi bem o que aconteceu. Jango preferiu que Darcy fosse seu ministro, sim, mas da Casa Civil, cargo que ocupou até o Golpe de 64 – seguindo depois para o exílio.

Dessa passagem pelo ministério, em 1962, Darcy Ribeiro guardou boas lembranças, como revelou no livro Testemunho:

Aprovei o Primeiro Plano Nacional de Educação, pondo em exercício o mandato da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovada pelo Congresso. A mais remarcável das minhas atividades foi, porém, a mobilização do professorado e também da estudantada para uma enorme campanha de escolarização de todas as crianças e de alfabetização dos adultos. Grupos de educadores, de artistas e de pessoas meramente instruídas se mobilizaram no país inteiro, utilizando os métodos mais variados – inclusive e principalmente o método Paulo Freire – tentando salvar milhões de brasileiros para si mesmos e para o Brasil, fazendo-os aprender a ler, escrever e contar.”

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